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27 Dezembro 2018

Contas ou coisas de Natal

24 de Dezembro de 2015

Estamos em Bali com obras em casa. Tudo está atrasado, a piscina devia estar concluída há pelo menos um mês, o poço também mas ainda é um projeto, de modo que na Véspera do Natal  o trabalho, tal como nos outros dias, vai-se estender pela noite dentro.

– Não te preocupes, somos muçulmanos, esta festa é vossa. Aproveitem-na.

Diz-nos o empreiteiro.

Estamos em casa do Indra e da Selly. São várias pessoas, de vários países à mesa e os donos da casa, também eles com duplas nacionalidades, vivem há muitos anos em Bali, com os filhos, pelo que a casa está enfeitada a preceito, com árvore, luzinhas e mesa posta como uma qualquer outra mesa de Natal. O menu está adaptado – estamos em Bali, não é? – ao que se consegue comprar e às tendências alimentares: Galinha, muitos vegetais salteados, um bolo de chocolate sem glúten para sobremesa. Para beber, vinho tinto e Gin.

Não há trocas de presentes. Estamos entre amigos com muita alegria a trocar receitas culturais e geográficas. Estávamos também nessa altura, eu e a minha filha, a cumprir um sonho de estar fora nesta época.

Nesse Natal não fomos à missa porque estava muito calor.

24 de Dezembro de 2016

Em Portugal a passar o Natal e, como previsto, as festas são muito mais pequenas e a dificuldade das pessoas se encontrarem muito maior. No entanto há mais comida e presentes. Não fomos à missa porque estava muito frio.

24 de dezembro de 2003

Muita família e muitos presentes. Ao terceiro a Maria, com cinco anos diz que não quer mais, que já tem muitos e que devemos dar os restantes a outras crianças que precisem. Nesse ano estamos em casa da minha mãe, todos os irmãos estão juntos, bem como amigos russos e brasileiros.

24 de Dezembro de 1999

Jantar em minha casa, música clássica ainda a Maria gatinhava. Amigos brasileiros, suíços, belgas e russos. Saiu o Brasileiro e pusemos disco. Dançámos até às 4 da manhã

24 de Dezembro de 2004

Muito trabalho e não fiz árvore de Natal. Também foi um ano particularmente difícil e não estava com espirito Natalício.  À última hora alguém me ofereceu um poster de árvore de Natal. Pendurei na parede e salvou a noite. Ainda hoje a minha filha se lembra disso como um momento de felicidade. Tantas vezes nos esforçamos demais e tão pouco pode dar tanta alegria. Presépio tivemos quase sempre.

24 de Dezembro de 2006

Mesa farta, casa linda mas éramos poucos. O meu irmão mais velho foi à rua para convidar aleatoriamente pessoas para se juntarem a nós na ceia de Natal.

Já faltou árvore, já se passou sem presépio, houve Natais sem presentes,  já celebrámos no calor e no frio. Vestidos a rigor ou de fato de banho. Não tivemos um Natal igual em nossa casa. Tivemos festas que começam direitinhas e outras que se assemelham mais a uma festa pagã. Já estivemos poucos, só alguma família mas também celebrámos com amigos de várias nacionalidades e até alguns estranhos literalmente encontrados na rua. Tudo corria lindamente, com muita alegria e sem discussões.

Claro que há o normal complicado de todas as famílias que é o desdobramento das crianças em várias festas. Isso nunca constitui um problema e movemos o Natal para 25 e 26 de maneira a que as crianças possam ir aos outros Natais sem se preocuparem com os problemas dos adultos.

Tudo bem, se continuarmos a estender um destes dias estamos no dia 6 de Janeiro e encaixamos na tradição espanhola de modo que tudo se conjuga. Para isso somos muito flexíveis.

Até que a nossa mãe se mudou para o Alentejo, para uma bonita casa numa bonita aldeia, o que à partida parece um cenário deslumbrante para passar o Natal, mas uns anos  antes também se tornou-se Vegan e por causa disso tivemos a nossa primeira discussão a organizar a ceia.

Toda a vida achei que Natal era a família, as luzinhas e o presépio até que me tentaram tirar o cabrito. Quem diz cabrito, diz peru, o bacalhau ou até mesmo pernas de galinha de Bali!

A perspectiva de os substituir por lentilhas e pimentos fundiu todos as luzinhas da casa. Seria como passar um verão sem sardinhas ou o inverno sem cozido à portuguesa. O ano ficaria arruinado.

Imaginei-me a sozinha, queria lá saber da família, a comer um assado em Lisboa.

Felizmente, somos muitos e ganhámos a batalha encomendando tudo num restaurante em Reguengos e mandando entregar.

Este ano a minha mãe cedeu e o bacalhau não só está de volta como foi feito em casa! Não há cabrito mas também não se pode ter tudo…

É que a comida está para o Natal como a água para o nosso corpo: Pode não se ver… mas é uma parte muito importante de nós!

Texto apresentado por mim originalmente no Ignite Natal 2018

Correio
Marta Gonzaga
Maria Gonzaga
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