“Sorry, no can´t”
Diz-me a jovem funcionária do hotel – onde tenho de passar a noite para no dia seguinte apanhar o voo para Tokyo e mais tarde o de regresso a Portugal – enquanto me mostra um papelinho incompreensível que saiu da máquina de pagamentos e faz um gesto em X com os braços, que quer dizer não.
Não é a primeira vez que isto me acontece aqui. No aeroporto à chegada não consegui pagar com cartão a viagem de comboio para Niseko, nem com o Visa, nem com o Visa electron. Mas no aeroporto todas as máquinas atm aceitam cartões internacionais pelo qualquer dificuldade se resolve rapidamente.
Eu não consigo perguntar em japonês onde há uma máquina multibanco e a menina do balcão do hotel não me consegue ajudar em inglês. Uma outra funcionária entende-me e aponta para uma loja de conveniência. Ficam a guardar a minha enorme mala e saio para voltar “em cinco minutos”.
Não foram cinco minutos. No ATM em frente ao hotel também não são aceites os cartões internacionais, nem em vários outros onde fui a seguir.
Este hotel fica num sitio um pouco isolado em Chitose, uma cidade perto de Sapporo, junto ao aeroporto internacional da região. E quando a primeira máquina se recusou a dar-me dinheiro, e como nenhum funcionário falava inglês, dirigi-me a um de dois americanos que ali andavam a fazer compras. De garrafa de água na mão, prontifica-se para me ajudar “que estas máquinas às vezes têm um truque”. Mas não, esta não tem truque nenhum. Então sai da loja e aponta-me para uns quarteirões mais à frente onde devo encontrar dinheiro. O amigo entretanto acaba as compras e junta-se a nós. Já é noite pelo que os dois rapazes resolvem acompanhar-me.
Apresentações feitas, são militares – mecânicos daqueles caças que levantam na vertical – numa base aérea junto ao hotel onde japoneses e americanos trabalham juntos.
Andámos vários quarteirões e experimentámos várias máquinas até que encontrámos uma que aceita todos os cartões internacionais. Uma vez resolvido a questão do dinheiro o rapaz pergunta:
– Hey?!? Paguei esta água??
Não, não pagou! E isso deixa-o transtornado. Enquanto voltamos para trás de volta ao hotel, à loja de conveniência onde ainda falta pagar uma água, e ao caminho de volta à base militar, brincamos com o incidente diplomático causado por dois militares americanos terem “roubado” numa loja de conveniência. Com isso e com o facto de que um roubo é uma coisa tão incomum nestas paragens que mesmo que tenham notado os funcionários não saberiam como reagir, tal a vergonha alheia pelo desonroso acto.
Uns trinta minutos depois, voltámos à loja de conveniência, o rapaz pôs-se na fila com a garrafa de água na mão como se nada fosse, pagou a água e saiu. Se alguém deu por alguma coisa disfarçou muito bem.
Foi uma boa caminhada em muito boa companhia, que deu para conhecer um pouquinho daquele bairro. Mas, no Japão e como nem sempre temos a sorte que tive desta vez: andar com dinheiro!