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20 Novembro 2016

O meu urso

Tinha esta fantasia de que iria passar os dias a descascar batatas, pintar paredes, cortar lenha e o que mais fosse preciso. Durante uma manhã fiz parte da equipa de limpeza até que à hora do almoço vieram-me falar de uma mudança de planos quanto às minhas tarefas. Pela frente, a reestruturação da comunicação de quatro negócios. Sites e redes sociais.  Nem me deixaram fazer outra coisa. Ao fim de poucos dias a minha equipa era enorme e passámos a ser a “equipa dos computadores”.

Não descasquei nem uma batata, não pintei nem uma parede. Para os outros, que todos os dias saíam para trabalhar com temperaturas negativas, o nosso trabalho aparentava ser o mais fácil. Não foi pacífico dar por mim, do outro lado do mundo como voluntária, a fazer exactamente aquilo de que estava a fugir.

Eu gosto é do Verão

Há uns anos fui para o Norte fotografar a apanha da azeitona. Era Janeiro e o Douro sabe fazer Invernos pelo que assim que lá cheguei arrependi-me e deixei-me congelar num sofá em frente a uma lareira apagada. Devo ter ficado imóvel duas ou três horas, com pena de mim, enquanto pensava na oportunidade desperdiçada de ter ido para o Sul fotografar qualquer outro trabalho manual. Até que o caseiro voltou e me encontrou no mesmo sítio onde me tinha deixado.
Acendeu a lareira, explicou como se acendem as salamandras da casa e aos poucos voltei a mim. Foram uns dias lindíssimos de que guardo memórias maravilhosas, mas a primeira impressão foi terrível.
Aqui, no norte do Japão, senti o mesmo desespero:
– O que estou aqui a fazer? Como é que aqui vim parar? Neve e frio…O Japão é incrível mas queria era estar no México!!

Os meus ursos

Trabalhamos de segunda a sexta-feira das 7:30 às 15:30 e a seguir faço um longo passeio, cada dia por um caminho diferente. Mais longo quando não neva. Se estou a subir as montanhas não me aventuro tanto quanto desejaria pois escurece cedo e os caminhos podem se tornar perigosos.
Nesta região há ursos. Em princípio não os deveremos encontrar nestas montanhas, mas nunca se sabe. Podem ser distraídos como eu e acabarem “acidentalmente” nesta paragens.
Quando neva fica assustador pois encontro pegadas que não sei decifrar pelo que tem acontecido dar meia volta aterrorizada. Do que me contam é uma hipótese muito remota, por muitas razões, mas eles estão na minha cabeça e travo uma batalha enorme para conseguir seguir caminho.
Hoje não cedi, apesar do barulho suspeito numas árvores segui em frente. Racionalmente sei que é o vento intenso o responsável pela orquestra. Subi o mais que o caminho permitiu e à volta lá estava o urso. Tão nítido a correr atrás de mim. Olhava repetidamente para trás mas a minha imaginação só conseguia fazer correr o filme quando eu não estava a olhar. 
Andava um urso por aqui, sim, mas era na minha cabeça e este já não me trava.

O Natal é em Portugal

À noite bebemos, comemos, jogamos poker, falamos e vemos filmes. Somos vinte e tal, uns vão embora mais rápido do que gostaríamos e outros chegam e trazem um mundo para partilhar. Ganhei amigos de todos os pontos do globo com esta família temporária. E a frustração inicial foi aos poucos dando lugar a um sentimento de aceitação e paz, onde não já não fazia sentido fugir do que sei fazer ou de quem sou.

Hoje aconteceu uma outra coisa, a mais importante, que não sentia há muito tempo:

Quero voltar para Portugal. Quando alguém me perguntou onde era a minha casa perdi as dúvidas: É Lisboa!
O meu trabalho aqui ainda não está acabado mas senti uma energia tão forte quando o disse que, naquele preciso momento, poderia ter fechado as malas e apanhado um comboio noturno só para iniciar a viagem de regresso. E esta foi das conversas mais felizes que tive em todo o tempo que tem durado esta viagem iniciada na Indonésia.
Ainda não tenho data definida mas o Natal é em Portugal. E Janeiro e Fevereiro também, tirando uma ou outra viagem que possa surgir.
– Mãe, por favor, que a ceia de Natal não seja totalmente vegan!
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Correio
Marta Gonzaga
Maria Gonzaga
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