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3 Fevereiro 2016

Quantas vezes se pode cair num dia?

Caída no chão, cheia de dores enquanto o Adi diz coisas que nem consigo ouvir e verifica se tenho o pé partido. São 18h45, estou num cruzamento à porta de uma caixa multibanco, este dia estava quase a acabar e já caí de manhã. Precisava de acontecer outra vez? Recebo umas tantas mensagens e só respondo à da Maria:

cancela tudo e venham buscar a mota. Posso ou não ter de ir ao hospital, mas conduzir não posso de certeza.

Um dia normal em que na véspera rezo para dormir até tarde e ter um dia tranquilo, é assim:

3 de Fevereiro, as 6h45: alguém me manda uma mensagem a pedir por bons sítios para tomar o pequeno almoço.

Grumph!! Mas como é que alguém que chegou ontem à meia noite já está cheio de energia a acordar os outros?! Se eu não vivo ao lado de galos, porque é que sempre alguém canta tão cedo?
O povo da Indonésia é o mais madrugador do mundo, do que sei esta informação é cientifica e ainda não verifiquei mas quase que aposto que os Australianos estão em segundo lugar.

Acordo mal disposta e sei que já não vou conseguir voltar a dormir. Pesquiso os mapas com dificuldade, (ainda me atrapalho com os nomes das ruas à minha volta) tento funcionar e lembrar-me dos nomes dos supermercados e cafés até que com muito esforço finalmente, mando uma mensagem, que eles já não viram porque saíram da zona wifi.

Volto a tentar dormir quando começa a chegar o staff todo. São cerca de oito motas que nos entram pelo pátio todas as manhãs. Eles riem e cantam e falam tanto. É bonito e é barulhento.

O dia começou à séria, tenho muito fome e estamos atrasadas para um pequeno almoço. Antes tenho de dar instruções, sair para levantar dinheiro para pagamentos das obras e seguir para o nosso encontro. Metemo-nos nas motas e cinco minutos mais tarde começa uma tempestade. A chuva é tanta que o protetor solar escorre para os olhos e mal os consigo manter abertos enquanto conduzo. Dois minutos depois, estamos tão ensopados que temos de parar na casa de uns amigos, para nos protegermos. Os amigos não estão em casa, e ficamos na pequenina sala do segurança à entrada, onde encontrámos também abrigado o Wayan, o homem  do fogging que também trabalha na nossa casa. Por causa dele tenho uma outra aventura para contar…. um dia destes.

O meu vestido todo molhado provoca gargalhas mas ninguém acha estranho que não volte a casa para me trocar. É desconfortável mas aceitável. Na primeira oportunidade comprámos umas capas e seguimos para o Monsieur Spoon, um dos melhores pequenos almoços das redondezas.

Ficou tarde e a pessoa com quem tínhamos marcado teve de seguir caminho. À saída do café uma atrapalhação com o cavalete lateral (não sou entendida, pesquisei agora no google por “peça que apoia a mota”) e firo-me no pé. Chego a casa a sangrar e é engraçado como os trabalhadores se aleijam todos os dias sem sequer pararem para se tratarem mas ficam muito impressionados que eu esteja a sangrar.

O primeiro do dia e o comprimido da noite

Já em casa, com um curativo do lado direito do pé esquerdo e a sentir “pronto, hoje já me aleijei”  como se isso representasse a minha quota de problemas diários toda cumprida, ao abrir a porta ao Adi, escorrego, voo e caio tão mal… uma poça de água instalou-se no hall de entrada e o chão é uma pedra muito envernizada: Uma ligação bastante perigosa. O Adi, do lado de fora espreita muito aflito enquanto tenta perceber se eu ainda estou viva. A Maria, ao longe não liga nenhuma porque deve ter pensado que eu vi um bicho qualquer.

Uma vez recomposta, percebemos que está a chover dentro de casa. Mais um arranjo para fazer. Isto não termina e tenho de combinar um ordenado fixo para os pequenos arranjos, porque desta maneira às empreitadas vou à falência.

Estou com algumas dores mas sem tempo para isso mas percebo que à noite vai ser pior.
No final do dia, volto a ter de ir ao Multibanco e à saída não vi o buraco. A seguir a um degrau, em Bali, há sempre um buraco, como é que eu não me lembrei disso?!? O tornozelo está uma lástima, e fiz outra ferida no mesmo pé, desta vez do lado direito.

Agora estou em casa, com mais um curativo e com o pé estendido sob duas almofadas, a pensar que comprimido é que hei-de tomar para que as dores não me contem vezes sem conta durante a noite, todas as quedas que dei hoje.

Correio
Marta Gonzaga
Maria Gonzaga
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