Preparadas para sair, no dia 30 de Abril, temos três senhoras à porta à procura da Ketut.
– Ketut, estás à espera de amigas?
– Sim, Marta. Não vou mais trabalhar para vocês. Mas arranjei-vos esta menina para trabalhar.
Com alguma tristeza e espanto pela decisão mas também pela decência de se preocupar connosco até na partida, poisamos os capacetes e voltamos para dentro de maneira a acertar as coisas com a jovem, demasiado jovem, menina. É bonita, muito educada, fala razoavelmente bem Inglês e até se propõe a fazer-nos os pequenos almoços. Mas nós não estávamos preparadas para a Ketut nos deixar.
Hoje, no primeiro dia, chegou cedinho e fez tudo irrepreensivelmente bem. Despachou-se mais cedo e saiu antes da hora combinada, mas não sem antes pedir. Tudo normal, mas ter 17 anos, a mesma idade da minha filha, e estar ali a trabalhar duro causou-me alguma angustia.
A Ketut combinou voltar de tarde para lhe pagar o ordenado e assim foi. Antes de sair pediu-me umas placas de zinco que estão no terreno e que nos sobraram da obra. Duas horas mais tarde voltou com um amigo e o filho para levarem as tais placas.
Estávamos nós a brincar com o bebé enquanto eles carregavam as placas, quando apareceu a nova empregada pela mão da mãe. Vinha com os olhos inchados de tanto choro e nem olhava para nós. A mãe segurava umas embalagens e pedia desculpa, porque a filha não se sentia bem e não poderia voltar a trabalhar.
– Não se preocupe, imaginei que isso iria acontecer. Ela é muito nova.
Viro-me para a Ketut:
– Como é Ketut, voltas a trabalhar para nós, não é verdade?
A Ketut ri-se, com o genuíno sorriso que tem este povo, e disse que sim. A mãe da menina entrega-lhe de volta as nossas chaves, trocam várias palavras que nós não entendemos e vai até ao fundo do jardim fazer uma cerimónia. De seguida benze a filha.
Damos dinheiro à mãe da menina pelo dia de hoje, que agradece muito e tenta entregá-lo à filha. Mas ela continua muito chorosa. Desejamos-lhes boa sorte e que não se sintam mal. Saem as duas, a mais nova a chorar e a mãe a agradecer pela nossa compreensão. Voltamos a brincar com o bebé, eles voltam a carregar o resto das placas.
A Ketut volta na quarta feira, nós ficámos felizes com o desfecho e no jardim ficaram uns cestinhos bonitos para os deuses nos protegerem a casa.